O
prefixo ‘inter’ está presente em diferentes palavras usadas no vocábulo
cotidiano por teóricos da cultura digital. Inter em relação ao tempo voltado
para a internet, interculturalidade, interdisciplinaridade, integração etc.
Esses prefixos marcam o deslocamento de fronteiras, limites e barreiras entre
áreas de conhecimento como português, matemática, história entre outras,
facilitando o aprendizado pela qualidade cognitiva dos gestos, do som, do
movimento e da imagem.
Entendemos
que unir, deslocar, dialogar, relacionar áreas distintas de conhecimento
rearticulam visões de mundo e de nós mesmos. Além de possibilitar trocas de
informações que muitas vezes são/estão trancadas em suas respectivas caixas.
Consideramos que o cruzamento de saberes multiplica perspectivas de
interpretações sobre um mesmo assunto, movimentando ideias, transcendendo
propósitos, contribuindo para o fomento de pesquisas diversas.
Destacamos
algumas ações ocorridas ao longo da história que fortalecem nossa proposição. O
sucesso dos Ballets Russes de Diaghilev (1909-1929) se deu por conta de
dançarinos e artistas plásticos envolvidos na elaboração do cenário e figurino.
Miró e Max Ernst foram essenciais na montagem de Romeu e Julieta com Nijinski
como primeiro bailarino em 1926. Artistas
de vanguarda queriam totalizar as artes, unindo diferentes expressões a obras,
intitulando seus projetos de arte total.
A dança passou a ter nesse projeto de “arte total”
importância capital porque é por meio do corpo que os sentidos estão
associados. O corpo, instrumento da dança, realiza a síntese perceptiva e, por
meio do movimento, espaço e tempo combinam-se em uma unidade. (BARBOSA, 2008 p.27).
No Brasil destacamos uma tentativa frustrante de
integração das artes no Ballet do IV Centenário de São Paulo. Quando em 1954 o
coreógrafo húngaro-italiano Aurélio Milloss foi convidado a coreografar o
ballet. Milloss era influenciado por Diaghilev e conhecia muito bem o poder de
integração entre as artes, convidou artistas brasileiros famosos para fazer a
cenografia e figurinos. No entanto, Millos concentrava em si o poder de
integrador, assumindo a regência de ideias como um detentor do conhecimento. Não
entendendo que a o cruzamento de saberes possibilita múltiplas perspectivas de
interpretações sobre um mesmo objeto.
O rompimento de barreiras territoriais, hoje,
operado principalmente pelas tecnologias contemporâneas, dispensa o regente. O
poder integrador está no grupo, no caso dos coletivos, e muitas vezes
concentrado no artista sozinho, que se apropria da música, manipula o espaço e
dá conta da materialidade ou seu simulacro. (BARBOSA,
2008 p.27).
Sentimos a necessidade de citar o exemplo de Millos com o intuito de
provocarmos reflexões acerca da integração entre as artes como modo de
produção, configuração, interritorial, capaz de articular pensamentos distintos
sem considerarmos um saber mais valioso que outro.
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